quinta-feira, 10 de março de 2011

A fuga da jaula

Tomei a decisão de fugir. Era minha quarta tentativa, mas depois da última vez as condições de detenção tinham se tornado ainda mais terríveis. Eles haviam nos instalado numa jaula construída com tábuas de madeira e folhas de zinco à guisa do telhado. O verão estava chegando, fazia mais de um mês que não tínhamos tempestades à noite. Ora, uma tempestade era indispensável para nós. Eu localizara uma tábua meio podre num canto de nosso cubículo. Empurrando-a fortemente com o pé, conseguiu rachá-la o suficiente para criar uma abertura. Fiz isso numa tarde, depois do almoço, enquanto o guarda cochilava em pé, equilibrado sobre seu fuzil. O barulho o assustou. Ele se aproximou, nervoso, e deu a volta na jaula devagar, como um animal selvagem. Eu o acompanhava pelas fendas que separavam as tábuas, prendendo a respiração. Ele não conseguia me ver. Parou duas vezes, chegando a grudar o olho num buraco, e por um instante nossos olhares se cruzaram. Deu um pulo para trás, assustado. Depois, para disfarçar, plantou-se bem na entrada da jaula; estava indo à forra, pois não tirava mais os olhos de mim.


Trecho do Livro Não há silêncio que não termine. Meus anos de cativeiro na selva colombiana. Ingrid Betancourt.